sábado, 7 de março de 2009

D.JOÃO


D. João: Aspectos Cotidianos

(Prof. Vito Corrado Vella)


A História do Brasil, vai comemorar os 200 anos da Vinda da Família Real para o Brasil, com certeza muita coisa será publicada, e será um momento importante de reflexão. Nesta época, a cidade de São Paulo, era um pequeno vilarejo com pouco mais de 20.000 habitantes, incluindo os escravos, e até o começo do século XVIII, a língua mais falada era o tupi. Os homens usavam uma faca comprida, que servia de arma de defesa ou de talher nas refeições. Outro fato interessante,é a grande quantidade de prostitutas que saía às ruas ao anoitecer à cata de tropeiros.

Já na cidade de Salvador tinha 46.000 habitantes e o Rio de Janeiro, 60.000 pessoas, e havia um problema no Brasil: a falta de moeda corrente, não havia dinheiro circulante no Brasil, e com o domínio português, a colônia vivia basicamente de escambo. O primeiro jornal brasileiro, era publicado em Londres: o Correio Braziliense, e seu fundador, foi o jornalista Hipólito José da Costa, que defendia a liberdade de expressão e as idéias liberais, acabou por fazer um acordo secreto com D.João, que a partir de 1812, passou a receber uma pensão anual em troca de crítica mais amenas ao governo de D.João, com o objetivo de prevenir qualquer radicalização nas opiniões expressas no jornal, isto afinal é coisa do passado, hoje não existe mais.

O calor era intenso, o quadro era composto por diversas moléstias e as epidemias se faziam presentes: disenteria, varíola, sarna, erisipelas, bicho dos pés, lombrigas, hemorróidas e tantas outras que levantavam a suspeita dos negros recém-chegados da África. Ma a higiene não era o forte de D.João: Numa ocasião, foi picado por um carrapato na fazenda de Santa Cruz, onde passava o verão. O ferimento inflamou e causou febre. A recomendação médica foi banho de mar. Diante do medo de ser atacado por crustáceos, e dos tradicionais remédios falharem, mandou construir uma caixa de madeira, na qual seria mergulhado nas águas da Praia do Caju, nas proximidades do Palácio de São Cristóvão, esta caixa, tinha furos por onde a água do mar podia entrar. D.João, permaneceu alguns minutos com a caixa imersa e sustentada por escravos, para que o iodo marinho ajudasse a cicatrização da ferida. É o único banho que se tem notícia em toda a sua vida.

O desleixo com a higiene pessoal e o avesso ao banho se estendia até com a D.Carlota, e era vício de resto comum a toda a família. D.João sofria de crises periódicas e profundas de depressão, em determinado momento chegou a pensar que tivesse enlouquecido, como a mãe; tinha vertigens e acessos de profunda ansiedade, vivia cercado pelos padres, adorava música sacra e detestava atividades físicas, ia à missa todos os dias, era um homem fraco, que suspeitava de tudo e de todos e só agia sob a coação do medo. Vestia-se mal, repetia a mesma roupa todos os dias e recusava-se a trocá-la mesmo quando já estava suja e rasgada.

A prática da mordomia na nossa política brasileira, é herança da vinda da família real no Brasil: a coroa empregava mais de 2000 funcionários, 700 padres, 500 advogados, 200 praticantes de Medicina e entre 4000 e 5000 militares. Para se ter uma idéia do que isto significava, só para confessar a rainha, um padre recebia um salário fixo anual de 250.000 réis, o equivalente hoje a 14.000 reais. Era uma corte que gastava demais: Em 1820, consumia 513 galinhas, frangos, pombos e perus e 90 dúzias de ovos por dia. Eram quase 200.000 aves e 33.000 dúzias de ovos por ano, que custavam cerca de 900 contos de réis ou quase 50 milhões de reais. Todas as galinhas à venda no Rio de Janeiro deveriam ser, prioritariamente, compradas por agentes do rei, esta situação provocou a escassez de galinhas, conseqüentemente, a venda no mercado paralelo.

Para cobrir as despesas da viagem, foi obtido um empréstimo da Inglaterra, no valor de 600.000 libras esterlinas, e foi criado o Banco do Brasil para emitir moeda, o resultado foi que em 1820, o novo banco já estava arruinado. Realmente Marx não estava errado: a História se repete em forma de tragédia ou comédia, na qual esta instituição financiou, sem garantias, políticos, usineiros e fazendeiros quebrados. A prática da “caixinha” nas concorrências e pagamentos dos serviços públicos, fazia parte do cotidiano. Pelos relatos do inglês Luccock dizia que se cobrava uma comissão de 17% sobre todos os pagamentos ou saques no tesouro público, era uma forma de extorsão, que se o interessado não contribuísse com a “caixinha”, os processos simplesmente paravam de andar. A corrupção se fazia presente e contribuía para aumentar as despesas, e o contrabando contribuía para diminuir as rendas.

E muitos ainda hoje, acreditam que a corrupção é fenômeno dos tempos modernos, mas o povo reagia criando versos populares, que ilustram muito bem a situação da época como este: “Quem furta pouco é ladrão Quem furta muito é barão Quem mais furta e esconde Passa de barão a visconde.” Ou então a participação popular se fazia presente com estes versos: “ Furta Azevedo no Paço Targini rouba no Erário E o povo aflito carrega Pesada cruz ao calvário.” Assim, concluiu-se o passado no presente...

Nenhum comentário:

Postar um comentário